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Blog da Cintia Cercato

Quatro razões para a obesidade aumentar o risco de Alzheimer

Cintia Cercato

05/10/2018 04h00

Crédito: iStock

Não é de hoje que o excesso de peso é apontado como fator de risco para o comprometimento da função cognitiva, que inclui memória, atenção, linguagem, raciocínio, capacidade de planejamento. Várias pesquisas já associaram a presença de obesidade na vida adulta com uma maior probabilidade de desenvolver demência em idades mais avançadas. O Alzheimer é o tipo mais prevalente de demência e está presente em 60% a 70% dos casos. Uma em cada nove pessoas com 65 anos ou mais tem a doença. A estimativa é que o problema vai afetar 42 milhões de pessoas em 2020 e 81 milhões em 2040.

As evidências sugerem que as alterações encontradas no cérebro do portador da doença de Alzheimer podem se iniciar muito antes do diagnóstico clínico, com uma fase inicial assintomática, seguida por uma fase onde já são vistas alterações na função cognitiva, mas que são leves e não prejudicam o funcionamento da pessoa.

A obesidade na vida adulta tem sido considerada um importante fator de risco para a doença. Pesquisadores analisaram um conjunto de estudos que somou mais de 19 mil pacientes, acompanhados por até 36 anos. Eles concluíram que o excesso de peso aumenta o risco do mal de Alzheimer, e quatro fatores principais podem explicar essa associação: 

  • Má alimentação Claro que nem todas as pessoas com excesso de peso comem mal, mas a dieta ruim é uma das principais causas do ganho de peso. Um estudo comparou a alimentação de indivíduos com Alzheimer com a de pessoas saudáveis e descobriu que quem desenvolveu a doença seguiu ao longo da vida um cardápio rico em alimentos processados, gorduras, manteiga, ovos e açúcar refinado. Já indivíduos saudáveis tiveram alimentação rica em grãos, frutas e vegetais.
  • Sedentarismo A falta de atividade física aumenta o risco de desenvolver obesidade. Existe uma hipótese de que a obesidade determinaria prejuízo da função cognitiva por determinar uma necessidade maior de fluxo sanguíneo para o resto do corpo, com redução do fluxo sanguíneo cerebral.  Algumas pesquisas demonstram que a atividade física regular tem um importante papel protetor para o desenvolvimento de demência.
  • Resistência à ação da insulina Pessoas com obesidade costumam apresentar um comprometimento na ação da insulina. Esse hormônio tem um papel muito importante para manter a saúde dos neurônios. A falta de sua ação no cérebro favorece a deposição de substâncias tóxicas que destroem os as células cerebrais.
  • Inflamação e estresse oxidativo A obesidade se caracteriza pela presença de inflamação de baixo grau e estresse oxidativo. Isso causa um envelhecimento celular, com prejuízo da função da célula. Assim, esses fatores, que são mais vistos em pessoas com obesidade abdominal, podem prejudicar o funcionamento dos neurônios, contribuindo para o pior desempenho em testes de função cognitiva.

Realizamos uma pesquisa no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) com 80 idosos obesos e portadores de comprometimento cognitivo leve, particularmente alteração de memória. Os participantes foram orientados a seguir uma dieta balanceada pobre em calorias. Houve uma correlação significativa entre perda de peso e melhora da função cognitiva observada em testes neuropsicológicos. Mesmo que o idoso tenha algum grau de comprometimento de memória ou linguagem, a perda de peso pode ser benéfica, retardando ou mesmo reduzindo o risco de evolução para quadros mais graves, como o Alzheimer.

Referência bibliográfica: Horie NC, Serrao VT, Simon SS, Gascon MR, Dos Santos AX, Zambone MA, Del Bigio de Freitas MM, Cunha-Neto E, Marques EL, Halpern A, de Melo ME, Mancini MC, Cercato C. Cognitive Effects of Intentional Weight Loss in Elderly Obese Individuals With Mild Cognitive Impairment. J Clin Endocrinol Metab. 2016 ;101(3):1104-12.

 

Sobre a autora

Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
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Sobre o blog

Este é um espaço com conteúdos relevantes sobre controle do peso, dieta, estilo de vida e tratamento da obesidade. Todas as publicações têm como base a melhor evidência científica disponível, garantindo informações de credibilidade.

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