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Blog da Cintia Cercato

Consumo x gasto de energia: entenda os mecanismos que regulam seu peso

Cintia Cercato

01/03/2019 04h00

Crédito: iStock

A obesidade é uma epidemia global. Sua prevalência triplicou desde 1975. Estima-se que mais do que 1,9 bilhões de pessoas em todo o mundo estão acima do peso. Estatísticas nacionais indicam que 60% dos brasileiros estão acima do peso ideal. Os quilos extras favorecem outros tantos riscos à saúde, de forma que tratar a obesidade é uma questão crítica.

O peso é resultante do equilíbrio entre o consumo e o gasto de energia –conhecido como balanço energético. Ou seja, se consumirmos mais calorias do que gastarmos, vamos ganhar peso. Daí o tratamento da obesidade é baseado em intervenções para reduzir o consumo de calorias e aumentar o gasto de energia.

Consumo de calorias

Já falei aqui no blog que a regulação do apetite é bastante complexa e que pessoas com obesidade tem mecanismos de saciedade menos eficientes. Estudos mostram que pessoas com excesso de peso produzem uma menor quantidade de hormônios intestinais que avisam o cérebro que o corpo está alimentado. São hormônios envolvidos na sensação de saciedade (tempo sem fome).

Uma outra alteração já comprovada em pesquisas, é que o hormônio da fome, cujo nível despenca logo após uma refeição em pessoas de peso normal, não se reduz em pessoas com obesidade, contribuindo para uma maior sensação de fome. Assim, para pessoas com excesso de peso, comer menos é muito mais difícil do que se pensa. Por essa razão, alguns dos novos medicamentos desenvolvidos para tratar a obesidade são direcionados para esses mecanismos. Se baseiam no uso de doses farmacológicas desses hormônios intestinais que causam saciedade, reduzindo a quantidade de calorias consumidas em cada refeição.

Gasto de energia

O gasto de energia pelo corpo depende de alguns componentes como o metabolismo basal, termogênese alimentar e gasto com atividade física. Esse último, sempre deve ser estimulado e é um dos pilares importantes no tratamento da obesidade. Pesquisas recentes têm buscado tratamentos farmacológicos que possam aumentar o gasto energético de forma segura.

Um alvo atual de pesquisa tem sido a ativação da gordura marrom. Esse tipo de tecido gorduroso é responsável por manter a temperatura corporal maior do que a temperatura ambiente através da produção de calor, aumentando a taxa metabólica basal e o gasto energético total. Apesar da explosão de investigações pré-clínicas e da identificação de uma extensa lista de potenciais alvos moleculares para o recrutamento e ativação da gordura marrom, as pesquisas em humanos ainda são limitadas. Ainda não sabemos o quanto que a ativação desse tipo de gordura em humanos contribuirá para o aumento do gasto energético total e se de fato essa via será uma grande promessa terapêutica para a obesidade.

Conhecer os mecanismos que regulam o balanço energético ajudam a identificar potenciais terapias.

Sobre a autora

Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
- Site: www.cintiacercato.com.br
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Sobre o blog

Este é um espaço com conteúdos relevantes sobre controle do peso, dieta, estilo de vida e tratamento da obesidade. Todas as publicações têm como base a melhor evidência científica disponível, garantindo informações de credibilidade.

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