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Blog da Cintia Cercato

É possível ter mais saúde mesmo com excesso de peso?

Cintia Cercato

12/04/2019 04h00

Crédito: iStock

Hoje em dia, existe grande discussão em torno dos riscos associados ao excesso de peso e muitas pessoas defendem que é possível ser saudável mesmo tendo obesidade. Para explicar melhor isso é importante entender alguns pontos.

Não existe dúvida na literatura médica que quanto maior o peso do indivíduo, maiores são os riscos para a saúde. Uma pesquisa publicada no ano passado avaliou o impacto de diferentes graus de excesso de peso no desenvolvimento de doenças cardiovasculares e na redução da sobrevida. O estudo acompanhou  um total de 3,2 milhões de pessoas por ano de 1964 até 2015. Resultado: quanto maior o grau de obesidade conforme IMC (índice de massa corpórea) —calcule o seu –, maior foi o risco de desenvolver doença cardiovascular ao longo da vida.

Em relação à sobrevida, pessoas com sobrepeso  (IMC > 25 kg/m2- 29,9 kg/m2) tiveram a mesma expectativa de vida que aquelas de  peso normal, mas apesar de longevidade semelhante elas apresentaram maior risco de desenvolver problemas cardíacos mais jovens, resultando num maior tempo vivendo com doença cardiovascular.

Claro que pessoas com excesso de peso têm mais chance de complicações como diabetes, pressão alta e dislipidemia. Mas existem aquelas pessoas com sobrepeso ou mesmo com obesidade que não têm complicações metabólicas. Essa condição costuma ser chamada de obesidade metabolicamente saudável. Ou seja, mesmo a pessoa sofrendo com excesso de peso, todos os seus exames estão normais. E é justamente esse padrão que faz com que muitos defendam que é possível ter obesidade e ser saudável.

Será? A pesquisa mais importante que tentou responder se existe obesidade saudável avaliou 3,5 milhões de britânicos. Os participantes eram livres de doenças cardiovasculares no início do acompanhamento e foram categorizados como portadores de peso normal, sobrepeso e obesidade e se tinham nenhuma, uma, duas ou três alterações metabólicas (pressão alta, diabetes, dislipidemia). Os participantes com obesidade metabolicamente saudável tiveram 49% de aumento do risco de doença coronariana e 96% de aumento do risco de insuficiência cardíaca em relação aos indivíduos de peso normal também metabolicamente saudáveis. Ou seja, mesmo com todo o check-up normal, a obesidade por si só aumenta o risco de doença cardiovascular. Os autores concluem a pesquisa dizendo que não existe obesidade saudável.

Mas isso não quer dizer que a pessoa que sofre com excesso de peso e obesidade não possa ser mais saudável do que é. E esse é o ponto mais importante. Perda de peso mesmo que modesta já traz benefícios para a saúde. Por exemplo, alguém que pesa 100 kg e que passa a pesar 90 Kg já reduz de forma significativa o risco de desenvolver doença cardiovascular, mesmo continuando com obesidade. Tentar ter um peso um pouco menor já traz benefícios!

Além disso, ser ativo fisicamente melhora muito a saúde. Pessoas com obesidade que são ativas têm menor mortalidade que pessoas de peso normal sedentárias. Assim, adotar um estilo de vida saudável pode amenizar os efeitos deletérios da obesidade. Não existe obesidade saudável, mas é possível ter mais saúde mesmo tendo excesso de peso!

Referências bibliográficas:
Metabolically Healthy Obese and Incident Cardiovascular Disease Events Among 3.5 Million Men and Women. J Am Coll Cardiol. 2017;70(12):1429-1437.
Association of Body Mass Index With Lifetime Risk of Cardiovascular Disease and Compression of Morbidity. JAMA Cardiol. 2018;3(4):280-287.
Weight Loss and Improvement in Comorbidity: Differences at 5%, 10%, 15%, and Over. Curr Obes Rep. 2017;6(2):187-194.

 

 

Sobre a autora

Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
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Sobre o blog

Este é um espaço com conteúdos relevantes sobre controle do peso, dieta, estilo de vida e tratamento da obesidade. Todas as publicações têm como base a melhor evidência científica disponível, garantindo informações de credibilidade.

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