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Blog da Cintia Cercato

Cápsula de hidrogel: será que ela é a pílula mágica para emagrecer?

Cintia Cercato

28/06/2019 04h00

Crédito: iStock

Em abril desse ano o FDA aprovou um novo dispositivo para o tratamento do excesso de peso e obesidade que será lançado no mercado americano no segundo semestre desse ano e segundo o fabricante estará amplamente disponível no mercado americano em 2020. Trata-se de uma nova tecnologia projetada para agir mecanicamente no trato gastrointestinal com o objetivo de deixar o estômago cheio provocando uma maior sensação de saciedade, fazendo com que as pessoas comam menos em uma refeição.

O produto, que será comercializado com o nome de Plenity é uma cápsula que deve ser engolida com meio litro de água, cerca de meia hora antes de uma refeição. Essa capsula consiste de celulose (material encontrado em plantas) e ácido cítrico, e forma uma matriz de hidrogel tridimensional. Essas partículas absorvem rapidamente a água no estômago, aumentando cerca de 100 vezes o seu volume. Em vez de formar uma grande massa, cria milhares de pequenos pedaços individuais de gel que ocupam aproximadamente um quarto do volume do estômago. Assim, o objetivo do tratamento é deixar o estômago cheio desse gel, deixando menos espaço para a comida. O hidrogel vai sendo esvaziado para os intestinos junto com o alimento e quando chega ao intestino grosso, é parcialmente quebrado por enzimas e perde a sua estrutura tridimensional. A água é reabsorvida pelo intestino e o material de celulose é eliminado nas fezes. Apesar de parecer uma grande inovação, os resultados não são tão palpitantes assim.

O estudo mais importante com o produto foi publicado esse ano na revista científica Obesity e avaliou 436 adultos que tinham o índice de massa corpórea entre 27 e 40 Kg/m2. Foi um estudo controlado por placebo, onde metade dos participantes recebeu a cápsula do hidrogel para ser ingerida com meio litro de água trinta minutos antes do café da manhã, do almoço e do jantar e a outra metade dos participantes recebeu uma cápsula com aparência bem semelhante mas que não continha o hidrogel (Placebo) e que também deveria ser ingerida da mesma forma, antes das três refeições principais.
O estudo teve seis meses de duração e os participantes eram pesados a cada mês. Aqueles que receberam a cápsula do hidrogel acabaram perdendo em média uma porcentagem maior de seu peso corporal (6,4%) em comparação com aqueles que tinham acabado de receber placebo (4,4%). Em relação aos efeitos colaterais, não houve grandes problemas, mas os participantes que receberam o hidrogel apresentaram mais diarreia ( 12,6% versus 8,5%), distensão abdominal (11,7% versus 6,6%) e dor abdominal ( 5,4% versus 2,8%).

Apesar da perda de peso ter sido melhor no grupo que recebeu o hidrogel, os resultados não impressionam muito. Além disso o estudo teve curta duração- apenas seis meses, não sendo possível avaliar se o resultado seria sustentável em períodos mais longos. Pessoas com problemas de esôfago, estômago e intestino não serão boas candidatas para esse tratamento, pois os efeitos colaterias são gastrointestinais, podendo piorar condições pre-existentes.
Se você está procurando por aquela pílula mágica, que faça você emagrecer sem nenhum esforço, sinto em lhe dizer, você não vai encontrar. O tratamento da obesidade é muito desafiador e necessita de um conjunto de medidas, que envolve mudanças de estilo de vida, abordagem comportamental , uso de medicamentos e até cirurgia em casos mais graves. O uso de cápsula de hidrogel até pode ser uma opção para algumas pessoas, aliada a outros tratamentos, mas não espere que apenas ela será capaz de controlar magicamente o seu peso.

Referência bibliográfica:
Greenway FL et al. A Randomized, Double-Blind, Placebo-Controlled Study of Gelesis100: A Novel Nonsystemic Oral Hydrogel for Weight Loss. Obesity (Silver Spring). 2019 Feb;27(2):205-216.

Sobre a autora

Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
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Sobre o blog

Este é um espaço com conteúdos relevantes sobre controle do peso, dieta, estilo de vida e tratamento da obesidade. Todas as publicações têm como base a melhor evidência científica disponível, garantindo informações de credibilidade.

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