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Blog da Cintia Cercato

Balanço energético, apetite, genética: entenda melhor por que engordamos

Cintia Cercato

03/01/2020 04h00

Crédito: iStock

Para explicar a razão pela qual engordamos é necessário entender o que é balanço energético. É o equilíbrio entre o que acumulamos e gastamos de energia. Em teoria, se o balanço energético é positivo, ou seja, a pessoa consome mais calorias do que gasta ao longo de um determinado período, isso vai levar a quilos extras na balança. Na prática, no entanto, a explicação não é tão simples como parece. Algumas pessoas são mais propensas a ganhar peso do que outras, por conta da genética de cada um. Os mecanismos que regulam nosso consumo alimentar e nosso gasto de energia podem funcionar de forma mais ou menos eficiente. Nossos genes determinam isso.

E por que alguém come mais do que deve? A razão não é a gula. É preciso entender que muitas coisas acontecem no nosso corpo para avisar se estamos alimentados adequadamente ou se precisamos comer mais. A regulação do apetite é complexa, e o nosso cérebro tem, dentre diversas funções, a de adequar o nosso consumo alimentar às nossas necessidades calóricas em determinado momento. Ou seja, promover a fome nos momentos em que o organismo precisa de energia e produzir saciedade nos momentos em que já estamos repletos de energia. Para isso o cérebro utiliza informações que vêm de diversas partes do nosso corpo, como do estômago, intestino, e do tecido adiposo. Participam também nossos sentidos como visão, olfato, paladar. E quando pensamos em comer, outras funções cerebrais também são ativadas, como memória e centros ligados ao prazer. Todos esses estímulos são somados e contabilizados para definir como ficará o estado de fome de uma pessoa.  Mas cada etapa desse processo complexo pode funcionar de maneira inadequada e o cérebro pode não detectar que o corpo está bem alimentado, fazendo com que a gente coma mais, mesmo sem precisar. Hoje em dia já sabemos que pessoas com obesidade tem alterações nessas vias de sinalização, o que as faz comerem mais para atingirem a sensação de saciedade.

Da mesma maneira que o organismo humano tem um sistema de regulação do apetite, também possui um sistema eficiente de regulação do gasto de energia, onde o metabolismo basal (quantidade de energia que o corpo gasta para sobreviver) sofre influência de vários fatores. Por exemplo, homens tem metabolismo mais acelerado que as mulheres. O aumento da idade está associado a queda do metabolismo, razão pela qual engordamos mais facilmente com o passar dos anos. A genética, nesse contexto, constitui um elemento fundamental, e por conta dela, pessoas semelhantes quanto a idade e composição corporal podem ter o metabolismo significativamente mais lento, tendo maior tendência a engordar.

No tratamento de uma pessoa com excesso de peso, buscamos intervir nos dois principais componentes do balanço energético- reduzir o consumo de calorias e aumentar o gasto. Sabemos que não é fácil, pois a luta aqui é contra a genética. Mas é possível controlar o peso. Se você está com dificuldade para emagrecer busque apoio de profissionais. A obesidade é um problema de saúde e não uma questão de força de vontade.

Sobre a autora

Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
- Site: www.cintiacercato.com.br
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Sobre o blog

Este é um espaço com conteúdos relevantes sobre controle do peso, dieta, estilo de vida e tratamento da obesidade. Todas as publicações têm como base a melhor evidência científica disponível, garantindo informações de credibilidade.

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