Cirurgia bariátrica: entenda os tipos, complicações e quem pode fazer
Cintia Cercato
08/03/2019 04h00
Crédito: iStock
Cada vez mais pessoas sofrem com o excesso de peso e a obesidade. E as estatísticas tem mostrado que o número de casos graves também vem aumentando significativamente. De acordo com os dados de inquéritos populacionais brasileiros a obesidade grau 3 (índice de massa corpórea maior ou igual a 40 kg/m2) aumentou 255% entre os anos de 1975 e 2003. Uma pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica mostra que de 2007 a 2014 o número de pessoas com obesidade grau 3 praticamente dobrou, atingindo cerca de 6,8 milhões de brasileiros. E como reflexo desse crescimento, o número de cirurgias bariátricas aumentou 46,7% entre 2012 e 2017. Foram realizadas mais de 105 mil cirurgias em nosso meio no ano de 2017.
Para quem está indicada a cirurgia?
De acordo com a Resolução 2131/15 do Conselho Federal de Medicina, a cirurgia está indicada para pessoas com índice de massa corpórea (IMC) acima de 40 kg/m2 ou para aquelas que apresentam o IMC maior do que 35 kg/m2 e portadoras de doenças que possam ser agravadas pela obesidade e que melhoram quando a mesma é tratada de forma eficaz. A lista de doenças é extensa e inclui diabetes tipo 2, apneia do sono, doenças cardiovasculares, osteoartrose, refluxo gastroesofágico, entre outras condições.
O tratamento cirúrgico deverá ser proposto se a pessoa tiver realizado tratamento clínico por pelo menos dois anos e não tiver obtido um resultado satisfatório.
A idade mínima para realizar a cirurgia deve ser de 18 anos, mas adolescentes com 16 anos completos e menores de 18 anos poderão ser operados, desde que haja a concordância dos pais ou responsáveis legais e que exista uma avaliação de risco-benefício cuidadosa por uma equipe multiprofissional que inclua o pediatra.
Quais os tipos de cirurgia mais realizadas?
As técnicas mais realizadas são as restritivas e as mistas. As cirurgias que apenas diminuem o tamanho do estômago são chamadas de restritivas e incluem a banda gástrica e a gastrectomia vertical. A cirurgia de banda gástrica se caracteriza pela colocação de uma cinta que aperta o estômago deixando-o com o formato de uma ampulheta. A gastrectomia vertical se baseia na remoção de 70-80% do estômago, e tem sido cada vez mais realizada em nosso meio.
Nas cirurgias mistas além da redução do tamanho do estômago há também um desvio do trânsito intestinal. Em nosso país a técnica do Bypass gástrico com reconstrução em Y de Roux ainda é a mais realizada. Nessa técnica o estômago é grampeado sendo criado um novo reservatório gástrico com um volume de apenas 50 ml e cerca de um metro do intestino é desviado. Esse desvio promove uma mudança na produção de hormônios intestinais que participam da regulação de fome e saciedade, mas que também tem efeitos metabólicos, melhorando doenças como o diabetes do tipo2.
Quais as principais complicações da cirurgia?
Muitos são os benefícios da cirurgia, uma vez que é o tratamento mais efetivo para perda sustentada de peso em longo prazo. Mas não é isenta de complicações. Existem complicações cirúrgicas, como fistulas, estenose de anastomoses, hérnias com oclusão intestinal. Além disso podem ocorrer complicações nutricionais, particularmente nas cirurgias mistas, como deficiência da absorção de vitaminas e minerais. Esse tipo de complicação pode ser evitado com uso de polivitamínicos. Outro problema, que já discuti aqui no blog é o aumento do risco de alcoolismo após a cirurgia. Por essas razões é fundamental o acompanhamento médico regular após o procedimento, para que os benefícios prevaleçam e os riscos sejam minimizados.
Sobre a autora
Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
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Sobre o blog
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