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Cirurgia bariátrica está associada a maior risco de suicídio?

Cintia Cercato

06/09/2019 04h00

Crédito: iStock

A cirurgia bariátrica é o tratamento mais eficaz para perda sustentada de peso em pacientes com obesidade grave. Está indicada para pessoas que não tiveram resposta ao tratamento clinico e apresentam IMC acima de 40 kg/m2 independente de doenças associadas ou para aquelas pessoas com IMC acima de 35 kg/m2 que apresentam doenças causadas ou agravadas pelo excesso de peso, como diabetes, pressão alta, apneia do sono, entre outras. Muitos estudos já comprovaram o benefício da cirurgia na redução de complicações associadas  à obesidade, como infarto do miocárdio, derrame e, diabetes mellitus. Um dos estudos mais importantes em cirurgia bariátrica demonstrou uma redução de 24% na mortalidade geral nos pacientes operados em relação aos não operados.

Além do benefício clínico, muitos aspectos relacionados a saúde mental melhoram após a cirurgia bariátrica. No entanto, existe uma proporção de pacientes que apresenta o retorno dos sintomas depressivos após algum tempo e outro grupo que não apresenta qualquer benefício psicológico.

Algumas pesquisas indicam que a população que busca tratamento cirúrgico já é uma população mais vulnerável a problemas psíquicos. Entre aqueles que buscam a cirurgia, existe uma maior proporção de pessoas com diagnóstico de depressão e ansiedade que a população geral. Além disso os  sintomas depressivos podem ser piorados pela presença de comorbidades médicas e pela ocorrência de complicações pós-cirúrgicas.

Um estudo publicado este ano na revista Obesity Surgery buscou avaliar a taxa de mortalidade por suicídio em pessoas operadas  ou se ocorre aumento de  tentativas de suicídio ou auto-agressão após a cirurgia bariátrica. Para isso, os pesquisadores revisaram extensamente a literatura médica sobre o assunto e selecionaram 32 estudos que abrangiam um total de mais de 148.000 pessoas.  Os pesquisadores encontraram que a taxa de suicídio após a cirurgia foi de 2,7 casos a cada 1000 pacientes enquanto que a taxa de tentativas de suicídio ou auto-agressão foi de 17 casos para cada 1000 pacientes. Houve um risco quase duas vezes maior de tentativa de suicídio ou auto-agressão quando comparada a população com ela mesma antes da cirurgia e um risco 3,8 vezes maior quando comparado com uma população pareada por sexo, idade e IMC.  Algumas hipóteses para explicar esse resultado incluem o aumento de abuso de álcool e pior absorção de antidepressivos após a cirurgia, bem como o fato de tratar-se de população mais vulnerável a problemas psíquicos.

As diretrizes atuais recomendam que seja realizada uma avaliação psicológica/psiquiátrica com um avaliador qualificado para determinar aspectos psicossociais, cognitivos, de personalidade, e aspectos de apoio social no pré-operatório. É importante ressaltar que a cirurgia bariátrica não é contra-indicada para pessoas com problemas psiquiátricos estáveis ou em uso de medicações psicotrópicas, sendo muito importante o acompanhamento especializado nessas situações para reduzir o risco de complicações.

Não há dúvidas dos benefícios clínicos que a cirurgia pode trazer, mas o acompanhamento contínuo no pós-operatório é fundamental para que os riscos sejam minimizados.

Referência bibliográfica: Castaneda D, Popov VB, Wander P, Thompson CC. Risk of Suicide and Self-harm Is Increased After Bariatric Surgery-a Systematic Review and Meta-analysis. Obes Surg. 2019 Jan;29(1):322-333.

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Sobre a autora

Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
- Site: www.cintiacercato.com.br
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Sobre o blog

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