Médico precisa de saúde para cuidar melhor do outro
Cintia Cercato
18/10/2019 04h00
Crédito: Istock
Hoje, 18 de outubro é o dia do médico. Parabenizo meus colegas de profissão por escolher cuidar do outro. Mas hoje gostaria de chamar a atenção para o fato de que quem cuida precisa se cuidar. O bem-estar do médico está associado a uma atenção de maior qualidade aos seus pacientes. Pesquisas já demonstraram que o comportamento do paciente é muito semelhante ao comportamento do seu médico. O médico que cuida de sua própria saúde, que se alimenta melhor, que faz atividade física regularmente, que toma vacinas e que está em dia com seus exames, inspira e estimula o seu paciente a fazer o mesmo.
Na última década, entretanto, a comunidade cientifica está bastante preocupada com a saúde dos médicos, particularmente com a alta prevalência da Síndrome de Burnout. Burn out quer dizer esgotamento. A síndrome se refere a um estresse intenso e contínuo provocado pelo trabalho, e estatísticas indicam que médicos tem o dobro da prevalência dessa síndrome quando comparada a população geral.
Muitos médicos estão expostos a altos níveis de estresse, o que pode levar a angústia, exaustão física e psicológica. Como consequência, a insatisfação e perda de entusiasmo pelo trabalho reduz a produtividade e pode até aumentar o risco de erro médico, comprometendo a qualidade da assistência prestada.
Pesquisas com médicos americanos indicam que 30-50% apresentam sinais e sintomas de burnout em algum momento da carreira, o que acaba tendo um impacto muito grande para a saúde da população. Dados recentes indicam que já na faculdade de medicina, durante o período de formação médica, internos e residentes já podem apresentar o problema. As mulheres são mais acometidas, assim como médicos que trabalham em medicina de família, emergência e especialidades cirúrgicas.
Um ambiente de trabalho desfavorável, com carga horária excessiva, inversão de turnos e a própria experiência de lidar com dor e sofrimento favorecem o esgotamento, bem como sintomas depressivos e maior risco de suicídio. Uma estimativa da Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio indica que, em média, 300 a 400 médicos cometem suicídio por ano em todo o mundo. Média de uma morte por dia. Isso representa uma frequência 2,45 vezes maior que a população geral.
Assim, no dia do médico, recomendo aos meus colegas que reflitam sobre estilo de vida, satisfação profissional, autocuidado. Destaco também a necessidade de melhoria de condições de trabalho nos serviços de saúde. Todos esses fatores vão influenciar a qualidade da medicina oferecida em nosso meio. Médico precisa de saúde para cuidar melhor do outro.
Sobre a autora
Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
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