Depressão é mais comum em quem tem diabetes
Cintia Cercato
29/11/2019 04h00
Crédito: iStock
Pesquisas indicam que as taxas de depressão podem ser três vezes maiores em pacientes com diabetes tipo 1 e duas vezes mais comuns em pessoas com diabetes tipo 2 em comparação com a população geral em todo o mundo. A ansiedade aparece em 40% dos pacientes com diabetes tipo 1 ou 2 e ter depressão e ansiedade piora o prognóstico do diabetes, diminui a adesão ao tratamento médico, reduz a qualidade de vida e pode aumentar a mortalidade. Por outro lado, a depressão pode aumentar o risco de desenvolver diabetes tipo 2 em 60%. Assim, parece que existe uma associação bidirecional entre essas duas condições.
Alguns fatores ambientais podem justificar essa associação. Falta de sono, má qualidade da dieta, falta de exercícios físicos são comuns tanto em pessoas com diabetes do tipo 2 quanto naqueles com depressão. Levando em consideração esses fatores, uma via biológica candidata para explicar isso seria uma perturbação do sistema de estresse.
O estresse crônico aumenta a produção do cortisol que atrapalha a ação da insulina e promove um aumento daquela gordura mais perigosa- a gordura abdominal. Por outro lado, essa resposta hormonal acaba também ativando vias inflamatórias que atrapalham a produção de neurotransmissores cerebrais contribuindo para o desenvolvimento de ansiedade e depressão.
Além disso, pessoas com diabetes, particularmente aquelas com o tipo 1, precisam monitorar a glicemia com frequência, utilizar múltiplas doses de insulina, além de iniciar a doença muitas vezes na infância ou adolescência, o que traz uma carga emocional grande, favorecendo índices maiores de depressão.
O grande problema disso tudo é que ter depressão está associada a um maior risco de complicações do diabetes como a retinopatia, nefropatia e mesmo as complicações cardíacas, com aumento dos índices de infarto e derrame.
Assim , quem sofre com diabetes deve ser avaliado durante o acompanhamento para potenciais sintomas de depressão. As pesquisas indicam que quadros de depressão são subdiagnosticados e subtratados em pessoas com diabetes. Fique atento para alguns sintomas:
- Pouco interesse ou pouco prazer em fazer as coisas;
- Se sentir "para baixo", sem perspectiva;
- Dificuldade para pegar no sono ou permanecer dormindo, ou dormir mais do que de costume;
- Se sentir cansado/a ou com pouca energia;
- Falta de apetite ou comendo demais;
- Se sentir mal consigo mesmo
- Dificuldade para se concentrar nas coisas, como ler o jornal ou ver televisão;
- Lentidão para se movimentar ou falar, a ponto das outras pessoas perceberem. Ou o oposto – estar tão agitado/a ou irrequieto muito mais do que de costume;
Se você é diabético e perceber esses sintomas, converse com o seu médico!
Sobre a autora
Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
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