Preconceito contra a obesidade chega a ser pior do que a doença em si
Cintia Cercato
06/03/2020 04h00
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A obesidade representa um dos maiores problemas de saúde pública mundial. Desde 1980, a prevalência de obesidade dobrou em mais de 70 países e tem aumentado em muitos outros. Somos mais de 600 milhões de adultos obesos no mundo! Mas os quilos extras na balança não vêm sozinhos, acabam acarretando uma série de complicações como diabetes, doença cardiovascular e até alguns tipos de câncer.
Apesar de todo esse impacto, as pessoas ainda não entendem a obesidade. Não enxergam que é uma doença. Além de sofrer com as consequências clínicas que o excesso de peso traz, os obesos têm que conviver com o terrível preconceito que a doença gera.
O estigma de peso refere-se à desvalorização social de uma pessoa porque tem excesso de peso e, geralmente, esses indivíduos acabam sendo rotulados como preguiçosos, desmotivados, sem força de vontade ou disciplina. Ele está presente na mídia, nas escolas, nos locais de trabalho e, infelizmente, também nos serviços de saúde. E essa falta de empatia da sociedade contribui para agravar a compulsão alimentar, o isolamento social, piorando ainda mais o peso, pois os obesos não procuram tratamento por se sentirem culpados pela sua condição.
Experimentar o preconceito prejudica drasticamente a qualidade de vida, principalmente dos mais jovens. Uma pesquisa revelou que crianças com obesidade grave tinham escores de qualidade de vida piores do que aquelas com idade semelhante que tiveram câncer.
Um estudo com adolescentes que buscaram tratamento para obesidade constatou que 71% deles sofreram bullying por conta do peso e um terço destes reportou que o bullying acontecia há pelo menos 5 anos! E o preconceito não vem só de colegas, mas também de educadores. Pesquisas mostraram que professores têm expectativas mais baixas em relação ao desempenho social e acadêmico de estudantes obesos em relação aos de peso normal.
Para piorar a situação, até profissionais de saúde demonstram preconceito. Levantamentos indicam que pessoas com obesidade tem consultas mais rápidas, são menos examinadas e menos investigadas quanto a suas queixas de saúde. Fora o fato de que as unidades de saúde não são adequadamente equipadas para receber pessoas muito obesas, tanto em relação ao mobiliário como também equipamentos, o que torna o ambiente clínico menos acolhedor.
A obesidade é uma doença muito mais complexa do que se imagina. E o preconceito só aumenta o problema.
Sobre a autora
Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
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