Nem sempre a cirurgia bariátrica atinge o sucesso desejado; entenda motivos
Cintia Cercato
13/03/2020 04h00
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A cirurgia bariátrica é o tratamento mais eficaz para perda sustendada de peso em pacientes com obesidade grave. Um dos estudos mais importantes demonstrou uma redução de 24% na mortalidade geral nas pessoas que fizeram a cirurgia em relação aos não operados. Hoje esta opção de tratamento é cada vez mais realizada.
Nos Estados Unidos, entre 1998 e 2005, houve um aumento de aproximadamente 800% na indicação desses procedimentos. Aqui no Brasil, entre 2011 e 2018, 424.682 pacientes realizaram cirurgias bariátricas, refletindo um crescimento de 84,7% em 8 anos.
O que se espera da cirurgia?
Uma perda de pelo menos 50% do excesso de peso e melhora das doenças que são causadas ou agravadas pela obesidade. Essa conta pode parecer complicada, mas na verdade é bem simples. O excesso de peso é o número de quilos acima do peso ideal. E para considerarmos que a cirurgia foi um sucesso, a pessoa tem que ter perdido pelo menos metade desses quilos nos primeiros anos após o procedimento.
Pesquisas indicam que 15-35% dos pacientes operados não atingem essa meta. Alguns fatores podem influenciar na resposta ao tratamento. Um deles é a idade. Quanto mais velhos os pacientes, pior costuma ser o resultado. Sabemos que o avanço da idade é associado a queda do metabolismo, e muitas vezes esses pacientes têm muitas doenças e limitações físicas que podem. de certo modo, justificar esse achado.
Pacientes com obesidade mais grave, particularmente aqueles com IMC > 50 kg/m2 (calcule seu IMC) também costumam não atingir essa meta com alguma frequência. Uma das razões pode ser simples: o excesso de peso é bem maior. E não perder metade dele não quer dizer que a cirurgia não ajudou. Muitos pacientes, apesar de não atingirem a meta e continuarem com obesidade, melhoram muito a qualidade de vida e doenças associadas.
Um outro ponto em relação a esse grupo de indivíduos é o fato de que obesidade extrema tem um componente genético muito forte, e essas pessoas são mais resistentes a qualquer tipo de tratamento, inclusive o cirúrgico.
Antecedente de depressão também costuma afetar o resultado. A adesão as mudanças de estilo de vida no pós-operatório ajudam a aumentar o sucesso. Pacientes com tendência à depressão podem ser menos aderentes a essas mudanças. Por isso, manter o tratamento da depressão durante todo o processo é fundamental.
O padrão alimentar antes da cirurgia pode dar pistas de como será a resposta à intervenção. Algumas pesquisas mostram que pessoas com compulsão alimentar ou com hábito de beliscar o dia todo podem ir pior do que quem não tem esse tipo de comportamento.
O fato é que quem não vai bem logo no começo costuma ter altas taxas de recuperação do peso perdido ao longo dos anos, ficando com os efeitos colaterais da cirurgia, sem os benefícios. Por isso, é fundamental que quem pretende fazer a cirurgia tenham em mente a necessidade de manter o seguimento com a equipe multiprofissional, para que sempre os benefícios sejam superiores a qualquer risco.
Sobre a autora
Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
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