Obesos fazem parte de grupo prioritário para receber vacina contra gripe
Cintia Cercato
27/03/2020 04h00
iStock
Devido a pandemia de covid-19, o Ministério da Saúde antecipou a campanha nacional de vacinação contra a gripe. Esta vacina não tem eficácia contra o coronavírus, porém, neste momento, poderá reduzir a procura por serviços de saúde, diminuindo os casos de gripe por influenza.
Já sabemos que existem grupos de risco que apresentam quadros respiratórios graves diante dessa infecção e ter recebido a vacina pode auxiliar no diagnóstico de casos do novo coronavírus, pois os sintomas são parecidos.
A primeira fase da campanha começou essa semana priorizando a vacinação de idosos, grupo de grande risco para desenvolver síndrome respiratória grave com o vírus influenza, e na atual pandemia, são justamente as pessoas com mais de 60 anos as mais acometidas por quadros graves do novo coronavírus.
Na segunda etapa da campanha será priorizada a vacinação de pessoas com comorbidades, incluindo aí portadores de diabetes, doença cardiovascular, doenças pulmonares e pessoas com obesidade. Desde a epidemia de H1N1 em 2009, a obesidade foi reconhecida como um importante fator de risco para o desenvolvimento de quadros mais graves.
Na época, pacientes com obesidade, particularmente aqueles com obesidade mórbida, tiveram o dobro de necessidade de cuidados em UTI do que pessoas de peso normal. Dados da Austrália indicam que para cada aumento de 5kg/m² no Índice de massa corporal (IMC) aumenta em 42% a chance de hospitalização relacionada a infecção pelo influenza.
Mas e o coronavírus?
Obesidade também aumenta a chance de quadros mais graves? Ainda não temos essa resposta. Poucas publicações trouxeram dados relativos ao peso dos pacientes. Essa semana foi publicado um relatório do serviço nacional de saúde do Reino Unido com informações a respeito de 196 pacientes com covid-19 confirmada, que foram admitidos na UTI.
Deste total, 57 eram mulheres e 139 homens. Sete em cada 10 pacientes tinha excesso de peso, sendo que 40% tinha obesidade. Infelizmente esse relatório não trouxe informações sobre diabetes ou hipertensão. Sabemos que pessoas com obesidade tem maior prevalência dessas comorbidades, e talvez o aumento de admissões na UTI tenha ocorrido por conta disso.
No entanto, é possível que exista esse risco uma vez que obesos, de fato, têm uma pior imunidade, independente de serem hipertensos ou diabéticos. Aliado a isso, quanto maior o grau de obesidade pior é a capacidade respiratória, pois a medida que o peso aumenta, existe uma compressão do tórax pela gordura, causando uma restrição para a expansão dos pulmões.
Ainda não podemos dizer que a obesidade está associada a quadros severos de coronavírus por falta de publicações científicas a esse respeito, mas podemos afirmar com toda certeza que esse grupo de pessoas precisa se vacinar contra influenza, onde não faltam evidências de maiores complicações.
Sobre a autora
Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
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