Razões que tornam obesos grupo de risco para formas graves de coronavírus
Cintia Cercato
10/04/2020 04h00
Crédito: iStock
Ainda temos muito a aprender sobre a infecção pelo novo coronavírus. Todas as semanas saem mais publicações científicas e aos poucos alguns fatores de risco vão se tornando mais claros.
Recentemente, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) publicou um documento indicando que pessoas idosas e pessoas de qualquer idade com doença pré-existente importante tem um risco alto de desenvolver formas graves da doença.
Nesse documento, o CDC já coloca obesidade grau 3 (IMC maior do que 40kg/m2) na lista de condições. Se observarmos o último boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde brasileiro em 06/04/2020, chama a atenção que a obesidade é o terceiro principal grupo de risco listado entre os óbitos de pessoas abaixo de 60 anos.
Por quais razões os obesos podem fazer parte do grupo que desenvolve formas mais graves de coronavírus?
- Obesidade aumenta o risco de diabetes e doenças cardiovasculares
Já é bem estabelecida a relação entre peso corporal e risco de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares. Isso se deve principalmente ao acúmulo de gordura abdominal, que acaba contribuindo para resistência a ação da insulina aliada a um aumento da inflamação sistêmica.
Estatísticas populacionais mostram que quanto maior o IMC, maior o risco do desenvolvimento dessas condições, mas vale destacar que mais importante que o IMC é o acúmulo de gordura no abdome. Mesmo pessoas com IMC não tão alto apresentam mais complicações metabólicas por conta do excesso de gordura abdominal.
- Obesidade está associada a redução da imunidade
Desde a pandemia de H1N1 ficou bem claro que obesos diante de uma infecção pelo vírus influenza apresentam maior replicação e disseminação do vírus ao pulmão, levando a formas mais graves da doença. Isso ocorre por conta da inflamação sistêmica associada a obesidade que modifica o microambiente pulmonar, afetando tanto a resposta imune imediata – aquela primeira linha de defesa do nosso corpo -, bem como a resposta imune mais elaborada chamada de resposta adaptativa. Se isso ocorre com a infecção pelo novo coronavírus, não temos certeza, mas a possibilidade é grande.
- Obesidade afeta a função pulmonar
Durante a respiração normal, o diafragma contrai, empurrando o conteúdo abdominal para baixo e, ao mesmo tempo, a contração dos músculos intercostais tracionam as costelas para cima e para frente. Devido ao excesso de gordura que reveste o tórax e o aumento de gordura abdominal, pessoas obesas apresentam limitação da mobilidade diafragmática e dos movimentos costais prejudicando a mecânica ventilatória.
Essas alterações reduzem a capacidade pulmonar e aumentam o trabalho respiratório. Além disso, pessoas com obesidade apresentam mais apneia do sono e uma consequência tardia dessa condição é a alteração do controle respiratório aumentando o risco de hipoventilação durante o dia, prejudicando a troca de gases do pulmão e reduzindo a oxigenação no sangue.
- Obesidade traz desafios em exames diagnósticos
Exames de tomografia, tão utilizados na pandemia para determinar a extensão do comprometimento pulmonar, tem um limite de peso. Isso vai depender da marca do aparelho disponível no serviço. Alguns aparelhos têm limite de 120-130 kg por exemplo, o que pode representar um problema no acompanhamento de pessoas com obesidade grave.
Sobre a autora
Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
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Sobre o blog
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