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Blog da Cintia Cercato

Bebidas energéticas podem trazer riscos à saúde de crianças e adolescentes?

Cintia Cercato

15/03/2019 04h00

Crédito: iStock

Seja para curtir festas, seja para passar horas jogando vídeo-game durante a madrugada, o alto consumo de bebidas energéticas pelos adolescentes é algo que chama cada vez mais atenção –e preocupa muita gente. Essas bebidas não contêm álcool e os ingredientes típicos encontrados nelas variam de acordo com a marca, mas a maioria é uma bebida açucarada e carbonatada contendo 80 mg a 320 mg de cafeína por porção.

No Brasil, a Anvisa permite o máximo de 35 mg de cafeína por 100 ml. Em geral, essas bebidas são vendidas em latas de 250 ml e a cafeína é o ingrediente psicoativo utilizado para melhorar a atenção e a energia do consumidor. Mas existe uma variedade de outros compostos, incluindo taurina, ginseng, glucoronolactona, guaraná e vitaminas.

As bebidas energéticas foram originalmente introduzidos no Japão durante a década de 1960 e tornaram-se cada vez mais populares na Europa durante os anos 1980 e 1990. E agora elas são um grande negócio. Já foi demonstrado que o consumo dessas bebidas é mais comum entre crianças e adolescentes do que entre os adultos. Na União Europeia estima-se que 30% dos adultos e 68% dos adolescentes consomem bebidas energéticas. O mercado global em 2013 era de 40 bilhões de dólares e estima-se que ultrapassará os 60 bilhões até 2021.

Uma preocupação relacionada ao consumo dessas bebidas é o estímulo cardiovascular. Pesquisas já demonstraram moderada elevação de pressão arterial e batimentos cardíacos. Embora esses efeitos possam ser inofensivos em adultos saudáveis, eles podem ser preocupantes no desenvolvimento de crianças, que têm tamanhos corporais menores e nenhuma tolerância desenvolvida a drogas estimulantes.

A Academia Americana de Pediatria e a Associação Médica Americana apoiam a restrição da venda desses produtos a menores de idade.  Os fabricantes se defendem alegando que a cafeína é amplamente disponível em bebidas de venda livre como chá e café. Mas o preocupante é que crianças e adolescentes chegam a tomar 3 a 4 latinhas de energético numa festa. E assim ultrapassam facilmente o limite de consumo recomendado de 100 mg ao dia.

Novas pesquisas têm chamado a atenção para potenciais efeitos deletérios ao cérebro. Um estudo com mais de 120 mil adolescentes procurou associar o consumo de bebidas energéticas com estresse, sono, desempenho escolar e tentativa de suicídio. Esse estudo mostrou uma correlação positiva entre alto consumo (superior a três latas/semana) e maiores índices de estresse, menor número de horas de sono e pior desempenho escolar.  O risco de tentativa de suicídio foi 3 vezes maior nos adolescentes que faziam uso frequente de energéticos em relação aos que não utilizavam a bebida. Os autores acreditam que crianças e adolescentes são mais sensíveis aos efeitos da cafeína que os adultos.

Assim, vale a pena ficar de olho no que nossos filhos estão bebendo. Obviamente que o uso de bebidas alcoólicas sempre é a maior preocupação dos pais de adolescentes. Mas vale alertar as jovens sobre o consumo excessivo de bebidas energéticas também.

Referências bibliográficas:
1:Taurine, caffeine, and energy drinks: Reviewing the  risks to the adolescent brain. Birth defects Res. 2017 Dec 1;109(20):1640-1648.
2: High stress, lack of sleep, low school performance, and suicide attempts are associated with high energy drink intake in adolescents. PLoS One. 2017 Nov 14;12(11):e0187759.
3: Caffeinated energy drink consumption among adolescents and potential health consequences associated with their use: a significant public health hazard. Acta Biomed. 2017 Aug 23;88(2):222-231.
4: Energy drinks and adolescents: what's the harm? Nutr Rev. 2015 Apr;73(4):247-57.

Sobre a autora

Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
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Sobre o blog

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