Cirurgia bariátrica aumenta o risco de abuso de álcool
Obesidade é um importante problema de saúde pública, pois aumenta o risco de uma série de doenças. A cirurgia bariátrica, conhecida popularmente como cirurgia de redução do estômago, é considerada um tratamento efetivo para pessoas com obesidade grave. Estudos mostram que a mortalidade por todas as causas diminui após a cirurgia, bem como redução de incidência de câncer e diabetes. Apesar dos benefícios da cirurgia à saúde, o procedimento não é isento de complicações.
Pesquisas têm sugerido maior risco de alcoolismo após a cirurgia bariátrica. Existem algumas hipóteses para isso. Autores defendem que pode haver troca de compulsão. Para os defensores dessa teoria, como a cirurgia limitaria o consumo excessivo de alimentos, o paciente aumentaria o consumo de álcool para obter recompensa. As evidências experimentais (com animais de laboratório) indicam uma maior sensibilidade à recompensa induzida pelo álcool após a cirurgia.
Outra hipótese para maior abuso de álcool no pós-operatório é que a cirurgia modifica a absorção e concentração sanguínea de álcool, favorecendo seu maior consumo. Para entender essa hipótese é importante conhecer alguns detalhes sobre a absorção do álcool no nosso corpo. Ela é mais rápida no intestino do que no estômago. Outro ponto importante é que a presença de alimentos no estômago retarda seu esvaziamento, reduzindo a absorção de álcool, confirmando o conceito de que " não se deve beber de estômago vazio".
Após a cirurgia bariátrica, com a redução do estômago e desvio do intestino ocorre importante alteração na absorção do álcool. Primeiro, porque o estômago esvazia mais rapidamente e, como dito anteriormente, o intestino absorve o álcool de forma mais acelerada. Ao mesmo tempo, com o estômago pequeno, existe menos ação da enzima que metaboliza o álcool nesse local, além do fato de que as pessoas operadas comem pouco, o que também acaba por favorecer picos mais elevados de álcool no sangue.
Pesquisas prévias confirmam que o pico do conteúdo de álcool é bem mais alto no pós-operatório. Além disso, o tempo de desaparecimento de álcool no sangue é quase o dobro, em comparação com o pré-operatório, e as pessoas operadas apresentam mais sintomas de embriaguez com menos doses. Para uma pessoa operada tomar duas doses de bebida alcoólica equivale ao consumo de quatro doses antes da cirurgia!
O principal estudo que avaliou essa questão antes e após a cirurgia bariátrica encontrou que a prevalência de abuso de álcool aumentou de 7% para 16% num seguimento de sete anos. Quem teve mais risco de desenvolver abuso de álcool foram os homens, os mais jovens e aqueles que já possuíam consumo alcoólico regular prévio. Vale a pena ressaltar que mais da metade dos pacientes que desenvolveu abuso de álcool após cirurgia não referia abuso no pré-operatório!
Essas pesquisas têm implicações significativas no cuidado das pessoas que realizam cirurgia bariátrica, que sem dúvidas é uma importante modalidade de tratamento para aqueles com obesidade grave. A história de abuso de álcool deve ser avaliada no pré-operatório e as pessoas que buscam o tratamento cirúrgico da obesidade devem ser orientadas sobre as mudanças de metabolismo do álcool após a cirurgia e os efeitos que a cirurgia tem de aumentar o risco de abuso de álcool, mesmo naquelas que não o consomem com regularidade no pré-operatório. Um acompanhamento cuidadoso é fundamental para que os riscos da cirurgia sejam minimizados.
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