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Blog da Cintia Cercato

Adolescente que não dorme bem tem maior risco de diabetes

Cintia Cercato

14/12/2018 04h00

Crédito: iStock

O diabetes do tipo 2 vem aumentando muito nos últimos anos. Dados do Ministério da Saúde mostram um crescimento de 60% no diagnóstico da doença entre adultos e a principal razão para isso é a piora do estilo de vida da população. Um fator que aumenta muito o risco de diabetes tipo 2 é a maior resistência à ação da insulina, hormônio produzido pelo pâncreas que tem como função principal regular os níveis de açúcar no sangue.

O aumento de peso e obesidade levam a uma maior resistência à ação da insulina e por essa razão são importantes fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes. Mas existem outros fatores que podem afetar a ação desse hormônio. Pesquisas já demonstraram que má qualidade de sono pode afetar a ação da insulina em pessoas adultas, mas um novo trabalho comprovou que isso também ocorre entre adolescentes.

Os adolescentes estão dormindo cada vez pior. Frequentemente eles vão se deitar muito tarde, levando a um atraso no ritmo circadiano fisiológico. Ficam horas nos eletrônicos durante a noite, e a luminosidade da tela já pode afetar a qualidade do sono, pois reduz a produção de melatonina, um hormônio que tem como função principal sincronizar o nosso relógio biológico, sendo a expressão hormonal da noite para o corpo. Além disso, os adolescentes frequentemente precisam acordar muito cedo para suas atividades escolares e acabam por ter horas insuficientes de sono.

Pesquisas indicam que 25% dos adolescentes dormem menos de seis horas por noite, bem abaixo das oito a dez horas recomendadas para essa faixa etária. A nova pesquisa, que avaliou adolescentes em torno de 16 anos de idade, comprovou que aqueles que iam dormir mais tarde e que tinham menor número de horas de sono apresentaram piora da sensibilidade à ação da insulina, o que pode aumentar o risco de desenvolvimento de diabetes do tipo 2. Assim, é fundamental ter uma boa qualidade de sono, tanto no que se refere à hora de ir dormir, quanto ao número total de horas de descanso à noite.

A Academia Americana de Pediatria reconhece o sono insuficiente em adolescentes como um importante problema de saúde pública que afeta significativamente a saúde e a segurança, bem como o sucesso acadêmico dos alunos do ensino fundamental e médio. Algumas medidas  devem ser tomados para que se melhore a qualidade de sono dos adolescentes. Evitar um excesso de atividades extracurriculares, uso frequente de eletrônicos, especialmente à noite (o que me parece um grande desafio) e até mesmo retardar o horário de início das aulas nas  escolas. Apesar de polêmica, essa última medida tem sido bastante apoiada pela Academia Americana de Pediatria, visto o prejuizo que a privação de sono tem causado na saúde e desempenho dos adolescentes.

Referências bibliográficas:
Simon SL et al; Too Late and Not Enough: School Year Sleep Duration, Timing, and Circadian Misalignment Are Associated with Reduced Insulin Sensitivity in Adolescents with Overweight and Obesity.  J Pediatr 2018 ( in press)
American Academy of Pediatrics. School start times for adolescents. Pediatrics 2014;134:642-9.

 

Sobre a autora

Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
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Sobre o blog

Este é um espaço com conteúdos relevantes sobre controle do peso, dieta, estilo de vida e tratamento da obesidade. Todas as publicações têm como base a melhor evidência científica disponível, garantindo informações de credibilidade.

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