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Blog da Cintia Cercato

Frutas fazem bem? Depende de como você as consome

Cintia Cercato

26/04/2019 04h00

Crédito: iStock

Uma dieta saudável deve incluir o consumo regular de frutas. As frutas são fontes de fibras, vitaminas e antioxidantes. A maioria das pesquisas indica um efeito protetor ou neutro das frutas contra doenças crônicas,  como infarto, AVC, pressão alta, diabetes tipo 2, certos tipos de câncer e até depressão.

Mas, com a vida moderna, muitos consumidores estão deixando as frutas frescas de lado e utilizando produtos de frutas, com diferentes graus de processamento, acreditando que estão mantendo no cardápio um pouquinho dos benefícios que a fruta traz. Para entender melhor, imagine que aquele bonito abacaxi pode sofrer várias transformações, como tornar-se um abacaxi seco, ou enlatado em calda, virar uma geleia, ou na forma de suco de caixinha com e sem adição de açúcar. E, obviamente, os benefícios daquele abacaxi vão depender da forma como ele é consumido. Você conhece a classificação dos alimentos utilizada pelo guia alimentar para a população brasileira? Vamos entender usando o abacaxi como exemplo.

1- Alimento in natura: aqueles obtidos diretamente da natureza sem sofrer qualquer alteração. Exemplo: o abacaxi fresco

2- Alimentos minimamente processados: correspondem a alimentos in natura que foram submetidos a processos de limpeza, remoção de partes não comestíveis ou indesejáveis, fracionamento, moagem, secagem, fermentação, pasteurização, refrigeração, congelamento e processos similares que não envolvam agregação de sal, açúcar, óleos, gorduras ou outras substâncias ao alimento original. Exemplo: abacaxi desidratado sem adição de açúcar

3- Alimentos processados: são fabricados pela indústria com a adição de sal ou açúcar ou outra substância de uso culinário a alimentos in natura para torná-los duráveis e mais agradáveis ao paladar. São produtos derivados diretamente de alimentos e são reconhecidos como versões dos alimentos originais. Exemplo: abacaxi em calda ou cristalizado

4- Alimentos ultraprocessados são formulações industriais feitas inteiramente ou majoritariamente de substâncias extraídas de alimentos (óleos, gorduras, açúcar, amido, proteínas), derivadas de constituintes de alimentos (gorduras hidrogenadas, amido modificado) ou sintetizadas em laboratório como corantes, aromatizantes, realçadores de sabor e vários tipos de aditivos usados para tornar o produto mais atraente, acessível, palatável, apresentar longa vida de prateleira e praticidade. Exemplo: suco néctar de abacaxi.

O fato de ser "de fruta" causa uma sensação no consumidor de estar escolhendo opções mais saudáveis, mas na verdade, quanto maior o processamento, mais açúcar e mais aditivos são ali colocados. E consequentemente os benefícios do que um dia foi fruta vira um verdadeiro "abacaxi" para a saúde.

Uma pesquisa recente tentou avaliar a relação do consumo de frutas e produtos de frutas com diferentes graus de processamento e o impacto para a saúde. Os pesquisadores revisaram uma vasta literatura sobre o tema e encontraram os seguintes achados: O consumo equilibrado de frutas frescas é claramente protetor para o desenvolvimento de doenças crônicas, mas como fruta e não como suco natural, mesmo aqueles feitos em casa com todo o cuidado sem uso de aditivos ou açúcar. Isso porque ao fazer o suco, é destruída a matriz da fruta com importante perda de fibras. Isso faz com que o suco tenha uma capacidade de elevar mais rapidamente a glicose no sangue (alto índice glicêmico). Além disso, os alimentos sólidos exigem o processo de mastigação, dando mais saciedade do que alimentos líquidos. Já o alto consumo de frutas enlatadas e sucos de frutas adoçadas estão diretamente associados com desfechos negativos para a saúde. Muitas mães trocaram o refrigerante pelo suco de caixinha adoçado, achando que fizeram uma boa troca. Mas na verdade, nem o refrigerante e nem o suco da caixinha devem ser incentivados. Bom mesmo é comer a fruta fresca, sem destruir sua matriz e principalmente sem adicionar açúcar.

Sobre a autora

Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
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Sobre o blog

Este é um espaço com conteúdos relevantes sobre controle do peso, dieta, estilo de vida e tratamento da obesidade. Todas as publicações têm como base a melhor evidência científica disponível, garantindo informações de credibilidade.

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