Por que remédios para diabetes são usados para emagrecer? Há riscos?
Recentemente algumas pessoas vêm usando uma medicação injetável aprovada para o tratamento do diabetes tipo 2 com o objetivo de perder peso. O grande problema é que muitas dessas pessoas utilizam o medicamento por conta própria, sem nenhuma avaliação médica. A decisão pelo uso do medicamento se dá por trocas de experiências compartilhadas em redes sociais. Sim, esse é um cenário em que o risco é grande, pois qualquer medicação tem contraindicações e potenciais efeitos colaterais. Automedicação deve sempre ser considerada uma prática perigosa.
Mas um remédio para tratar diabetes pode servir para emagrecer? Depende do remédio. Essas dúvidas começaram a aparecer quando foi aprovada em 2010 uma medicação chamada liraglutida para o tratamento do diabetes tipo 2. Esse medicamento imita um hormônio produzido pelo nosso intestino – o GLP-1. Esse hormônio ajuda no tratamento de diabéticos, pois reduz a glicose no sangue (mas não a altera se ela estiver normal). Além disso, o GLP-1 atua em regiões cerebrais que regulam o apetite, causando redução da fome e maior saciedade, facilitando a adesão a uma dieta com redução de calorias.
Durante a fase de pesquisas com o medicamento para tratar o diabetes, foi observado que esse princípio ativo também reduzia o peso, podendo ser uma opção para o tratamento de pessoas obesas. Assim, a indústria farmacêutica que desenvolveu o produto realizou um programa de estudos clínicos envolvendo milhares de pessoas que tinham excesso de peso com o objetivo de comprovar se o remédio poderia funcionar também para tratar obesidade, mantendo uma boa relação risco versus benefício. Após essas pesquisas, essa medicação (em doses mais altas que aquelas aprovadas para o tratamento do diabetes), obteve aprovação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 2016 para tratamento da obesidade e também por outras agências regulatórias internacionais, independentemente de a pessoa ser diabética ou não.
Apesar de o princípio ativo ser exatamente o mesmo, a liraglutida possui dois registros e, portanto, dois nomes comerciais, sendo um com indicação em bula para tratar diabetes e o outro, com indicação em bula para tratar a obesidade, em dose um pouco mais elevada. Foram dois programas de desenvolvimento clínico. Uma para cada doença. Essa classe de medicamentos possui efeitos colaterais principalmente gastrointestinais, como náuseas, vômitos, piora de refluxo gastresofágico, diarreia e é contraindicada em algumas situações clínicas.
No ano passado, a mesma indústria lançou um novo princípio ativo (semaglutida) aprovado pela Anvisa para o tratamento de diabetes tipo 2 que também imita o GLP-1, com estrutura muito parecida com a liraglutida, porém com a comodidade de poder ser administrada com uma injeção semanal ao invés das injeções diárias. A semaglutida também está sendo estudada para tratar a obesidade, mas as pesquisas ainda estão em andamento e não foram finalizadas e, portanto, ela ainda não possui essa indicação na bula. Seu uso atual num contexto de tratamento de obesidade é chamado de "off-label" (quando indicada para um uso não expresso na bula). O uso fora de bula somente deve ser proposto após avaliação criteriosa, idealmente por médicos especialistas, quando as opções atuais não se mostrarem adequadas e os benefícios esperados forem maiores do que os riscos. Esta é uma decisão médica que deve ser claramente discutida com o paciente.
No entanto, muitas pessoas estão usando o medicamento por conta própria para emagrecer, de forma indiscriminada, sem respeitar critérios clínicos e contraindicações do tratamento, aumentando a chance de efeitos indesejados. É sempre importante lembrar que obesidade é uma doença complexa e que seu tratamento não se resume ao uso de um medicamento de forma isolada. Quando indicado por um médico, deve estar associado a modificação de estilo de vida, com um plano alimentar individualizado, atividade física regular e ferramentas comportamentais.
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