Entenda como a obesidade afeta a imunidade
Cada vez tem ficado mais claro o papel da obesidade como importante fator de risco para o desenvolvimento de formas graves da infecção pelo novo coronavírus. Muitas são as razões que tornam os obesos um grupo de risco. Mas hoje vou tentar explicar de que forma a obesidade está associada a piora da imunidade diante de uma infecção viral. Esse conhecimento ficou mais consolidado após a pandemia de H1N1 em 2009, em que obesos tiveram maior risco de hospitalização, necessidade de ventilação mecânica e mortalidade.
Nessa época, os pesquisadores tentaram entender o que estava por trás desse desfecho tão desfavorável. A primeira linha de pesquisas foi feita com roedores de laboratório geneticamente obesos ou que eram engordados às custas de dieta rica em gordura.
Esses animais então eram comparados com aqueles de peso normal. Os animais obesos quando infectados, apresentavam maior disseminação do vírus para as vias áreas inferiores, e apresentavam quadros mais graves, com maior dificuldade respiratória, sobrevivendo menos em relação aos animais de peso normal.
As pesquisas começaram a investigar o que acontecia no microambiente pulmonar, particularmente na atividade das células de defesa. A resposta imune é dividida em uma resposta inata, que é a primeira linha de defesa contra uma infecção, presente desde o nascimento e inespecífica, seguida por uma resposta imune adaptativa, que seria a linha de defesa mais elaborada, adquirida a partir da exposição ao agente viral.
Nos modelos animais de pesquisa foi verificado que os roedores obesos apresentavam alteração no funcionamento tanto da resposta imune inata quanto na adaptativa.
E a culpa para tudo isso tem a ver com produtos secretados pelo tecido adiposo. Sim, nossas células de gordura não são apenas um depósito de energia, mas sim um órgão que secreta múltiplas substâncias que agem em todo o organismo.
Uma delas é a leptina, que além de controlar o apetite tem funções muito importantes na regulação da função imune, como ativar e modular a ação das células da linha de frente no combate a infecção, como as células natural-killer, que são altamente eficientes em reconhecer e exterminar as células infectadas pelos vírus.
O problema é que quanto maior o acúmulo de gordura, particularmente na região abdominal, maior é a produção de substâncias inflamatórias, que acabam atrapalhando a ação da leptina, e com isso diminuindo ou atrasando a ação das células que participam da primeira linha de defesa.
Acontece que essas células normalmente são uma ponte para ativar a resposta mais elaborada. E se elas não funcionam bem, o recrutamento de células mais especializadas também é afetado.
Estudo realizado em nosso grupo pela doutora Cristiane Moulin durante seu doutorado evidenciou que obesos grau III (IMC acima de 40kg/m²) tinham uma diminuição da atividade citotóxica das células natural-killer. Porém, o mais interessante desse trabalho foi que a perda de peso após realização de cirurgia bariátrica se associou ao aumento da atividade dessas células, indicando uma melhora da resposta imune.
Combater a obesidade não só reduz o risco de doenças crônicas, como diabetes e doenças cardiovasculares, mas também melhora a resposta do organismo a infecções agudas.
Referência bibliográfica:
Moulin CM, Marguti I, Peron JP, Halpern A, Rizzo LV. Bariatric surgery reverses natural killer (NK) cell activity and NK-related cytokine synthesis impairment induced by morbid obesity. Obes Surg. 2011 Jan;21(1):112-8.
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