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Blog da Cintia Cercato

Até 68% das pessoas têm nódulos de tireoide, mas muitos deles são benignos

Cintia Cercato

23/11/2018 04h00

O uso indiscriminado do ultrassom acaba por detectar pequenos nódulos sem significado clínico, gerando angústia e preocupação | Crédito: iStock

A tireoide é uma glândula situada na região anterior do pescoço responsável pela produção dos hormônios T3 e T4, que estão envolvidos em diversas funções do organismo. Já falei aqui sobre hipotireoidismo, condição em que há diminuição da produção dos hormônios pela tireoide, que acomete 2% da  população mundial.

Um outro problema comum é o aparecimento de nódulos na glândula, que pode atingir até 68% da população adulta, dependendo do método diagnóstico utilizado. Infelizmente, existe um uso indiscriminado do ultrassom que acaba por detectar pequenos nódulos sem significado clínico gerando angústia e preocupação. Não se deve fazer ultrassonografia do pescoço sem indicação precisa, pois como dito anteriormente, nódulos de tireoide são muito frequentes acometendo mais da metade da população adulta.

O ultrassom deve ser priorizado para quem tiver um nódulo clinicamente detectado, isto é, palpado por um médico, ou quem tiver risco maior para desenvolver nódulos malignos, como os indivíduos que sofreram radiação na região cervical, (por exemplo, para tratar de linfoma), ou que possuem parentes com câncer da tireoide. Não existe indicação para rastreio "de rotina".

Uma vez detectado um nódulo, de acordo com suas características, pode ser necessária a realização de uma punção por agulha fina, aspirando as células para verificar se são benignas ou malignas. Vale a pena ressaltar que a grande maioria dos nódulos é de natureza benigna. Nódulos detectados em crianças pequenas, homens e pessoas com mais de 60 anos merecem uma maior atenção, assim como nódulos muito duros à palpação ou que crescem muito rapidamente.

É importante enfatizar que boa parte dos casos de nódulos malignos tem um prognóstico muito bom, com mortalidade extremamente baixa. O tratamento de escolha para os casos de malignidade é a cirurgia com a remoção da glândula. Aqueles com tumores mais invasivos ou maiores podem precisar de cirurgia mais extensa e tratamento complementar com iodo radioativo. Diferentemente de outros tipos de cânceres, o câncer de tireoide (particularmente do tipo papilifero) tem altas taxas de cura e baixa mortalidade.

Nos últimos anos, pesquisadores e sociedades médicas têm alertado para o problema do chamado "superdiagnóstico" de câncer de tireoide em pequenos nódulos que não causariam sintomas ou morbidade alguma, onde o risco do tratamento acaba sendo maior do que o da própria doença. Assim, diretrizes nacionais e internacionais têm sido cada vez mais conservadoras na indicação de rastreio ou punção de nódulos de tireoide. Por meio de sistemas de estratificação de risco baseados no tamanho e nas características do nódulo é possível identificar aqueles casos que merecem acompanhamento a partir de métodos de imagem ou a realização de punção, priorizando a investigação de nódulos que possam ser clinicamente significativos.

Sobre a autora

Cintia Cercato é médica endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
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Sobre o blog

Este é um espaço com conteúdos relevantes sobre controle do peso, dieta, estilo de vida e tratamento da obesidade. Todas as publicações têm como base a melhor evidência científica disponível, garantindo informações de credibilidade.

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